(Roberta Amélia)
Hoje o Metal Etílico trás junto ao seu convés, 4 piratas em busca da cena perdida. Sendo assim, quem ganha o melhor tesouro é você leitor, após conferir esta brilhante banda de Blumenau, Santa Catarina.
As perguntas serão respondidas por Sidney Oss Emer, também conhecido pela alcunha de Barba Negra. Vale salientar que todos os integrantes tem a mesma autonomia para falar da banda, e cabe àquele que recebeu as perguntas, respondê-las como honrado pirata que é, para estar no posto de capitão da barca Isla de la Muerte.
Long John Silver nos vocais (João Luiz Izepon), Barba Negra teclados, acordeon e didgeridoo (Sidney Oss Emer) já apresentado, Laurens de Graaf nas guitarras (Henrique Mengisztki) e Edward Lowe nos tambores (Diogo Miguel Trainotti) sobem ao novo navio cervejeiro, e bem aventurados somos, ao começar com a pergunta do por que a banda se chamar Isla de la Muerte?
Bom, primeiramente, agradeço em nome da banda pelo espaço concedido. Antes de decidir o nome, a ideia de abordar temas piratas dentro dos estilos nos quais nos propusemos executar já estava bem difundida. Porém inevitavelmente, chega uma hora em que todo mundo senta e diz: "Tá, mas e o nome da banda?".
"Como muitos sabem, a grande fama da pirataria mundial gira em torno de localizações cuja predominância social e cultural é oriunda do oeste europeu (destaque para Inglaterra e Espanha). Como o propósito é e sempre foi cantar em português, pensamos em um nome no idioma, sendo cogitado entre eles:
> Senhor dos Corvos - Pelo fato de o animal estar associado à companhia marítima e ter esse ar místico. Não foi escolhido, mas está entre nossas letras e trabalhos futuros;
> Ilha da Morte - Em português não soa muito convincente, porém a escolha do termo parecia ser a melhor, entre outras descartadas. Então, adaptamos para o idioma de maior predominância histórica e que combine com a proposta (afinal "Death Island" não parece muito com uma banda de folk pirata).
Por isso o espanhol, aí já aproveitamos a onda caribenha bastante conhecida de muitos, o que fica de fácil associação e assimilação. É muito frustrante você ter que soletrar ou ensinar alguém a pronunciar o nome de sua banda!
E a escolha do termo é por conta de um nome genérico que era dado a localidades às quais piratas almejavam atacar e obter grandes tesouros, porém, muitos destes não voltavam vivos para contar o que lhes acontecera. Então sempre que havia a iminência de chegar a um local destes (ricos porém perigosos) eram denominados Ilha da Morte.
Uma curiosidade é que existe uma ilha específica no oceano Índico chamada "Ilha da Morte", porém não tem relação direta com a pirataria."
O mar não está pra peixe, porém perguntamos como estão os projetos nos últimos meses da banda em terra firme:
"Até pouco antes da pandemia, estávamos focados na finalização das faixas do nosso primeiro álbum chamado "Vagas Abertas Para Capitão" e apresentação destas nos shows que viemos apresentando desde meados de 2019. Atualmente continuamos cada integrante em sua casa, dando continuidade a este trabalho. Ainda faltam algumas faixas para terminar de compor, bem como gravar. Porém, paralelamente a isso, já estamos trabalhando novas canções do segundo álbum, que terá seu lançamento adiado, justamente porque o público ainda não conhece todas as faixas de Vagas. Mas uma coisa que posso adiantar, é que já tem conteúdo bruto para até o quarto álbum."
Bons piratas tem suas habilidades, e logo perguntamos: o que você acha que a banda tem que nenhum outro grupo tem?
"É uma pergunta difícil, pois a gente vê tanta coisa por aí (falando numa escala global). Eu particularmente, gosto de conhecer bandas novas e estou sempre ouvindo coisas diferentes. De modo que vez ou outra me deparo com algum tipo de semelhança (por mínima que seja). Mas, se for bem específico, acho que o fato de contarmos uma história com início meio e fim, cujas músicas estão interligadas, e além disso, levarmos isso para o palco de maneira teatral e interativa seja um grande diferencial. É algo que envolve muito trabalho e dedicação. São detalhes de figurino, atuação e letras cuja base de composição é galgada na história e geografia real da pirataria mundial.
Em suma, pode não ser algo que nenhum outro grupo tem, mas acredito que seja um nicho bastante distinto."
A pirataria é um legado, de geração em geração as histórias se espalham sem morrer, e perguntamos a eles quais são as maiores influências da banda:
"Como toda banda, as influências são um balaio, pois cada integrante possui um gosto pessoal específico. Posso citar que de modo geral, bandas com proposta de alguma forma semelhante estão Korpiklaani, Alestorm, Hillbilly Rawhide, Turisas...
Mas se for analisar cada instrumento individualmente, você consegue encontrar traços de blues, metal sinfônico, hard rock, metalcore, country, fado e por aí vai."
(Mary Ferraz)
Como você analisa a música no maisntream do brasil atual?
"Cara, falar de mainstream é bem genérico. Se for falar de música no cenário de entretenimento fonográfico, vejo o mainstream muito mal representado, uma vez que o fomento de mídias massifica canções cada vez mais pobres, visando a simples disseminação de um hit que logo será esquecido. Para nós, inclusive, isso marca mais ainda, pois cada letra nossa tem um propósito. Não é aquela coisa que você está tomando banho, tem uma ideia, anota depois, grava e vai pro estúdio. Houveram situações de discutirmos por horas como seria escrita uma única frase. Mas eu vejo que essa debilidade de qualidade no mainstream, nem é tanto culpa de quem a produz, mas da falta de senso crítico de quem consome. Contudo, de certa forma isso acaba sendo um filtro que reflete diretamente nos nossos fãs, pois sabemos que quem está nos acompanhando não o faz meramente por termos músicas grudentas e sem fundamento, então nos mostra que estamos no caminho certo."
Sem muita enrolação, e em tom de despedida, nossos amigos partem para seguir o rumo de novos mares nos apresentando suas músicas marítimas:
Como eu citei, os estilos que permeiam o nosso setlist são bem variados. É difícil elencar uma só. Mas percebemos que Vagas Abertas Para Capitão (single homônima do álbum) juntamente com Gravata de Sisal e Festa do Saque.
> A Vagas Abertas Para Capitão foi a primeira música que compusemos. Por isso leva o nome do álbum. Ela se aproxima das pessoas e ao mesmo tempo, as leva junto quando conta sua história. É fácil entender a sua letra e entender o que está acontecendo, bem como seu ritmo é dançante e contagiante (segundo amigos e fãs). Quando você percebe, se pega cantando: "Eita vida de merda!".
> Gravata de Sisal já tem uma proposta mais metal, tendo adicionados outros gêneros que temperam a música e dão um ar mais "conceitual", e ao mesmo tempo, proporcionando momentos de roda no moshpit, por conta do seu ritmo em algumas partes. Ela conta a história de marujos que foram pegos pela Armada do Porto de Cabo Verde durante um saque mal sucedido e como o seu capitão fez para resgatá-los da prisão antes que fossem enforcados. Daí o nome da música.
> Festa do Saque já antecipa o que vem pela frente. Se Vagas tem um ritmo dançante, Festa do Saque multiplica essa sensação. Dificilmente vemos o público parado quando tocamos essa música. Eu costumo dizer que não tem metaleiro tr00 quando toca a gaita velha, e isso é muito gratificante de se observar. Que desde o pessoal do Rock'n Roll até a galera do metal extremo vão pra frente do palco pra dançar e falar de bebida. Contrariamente à Gravata de Sisal, Festa do Saque conta sobre um saque bem sucedido, que proporcionou dinheiro, beidas e mulheres aos piratas. Além de descrever práticas de "batismo" de marujos de primeira viagem.
Mais uma vez, quero agradecer pela oportunidade, e mandar um grande ahoy para o Metal Etílico e seu público. Nos veremos em breve para partilhar de uma cerveja e um bom e velho rum.
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