sexta-feira, 4 de maio de 2018

ENTREVISTA: Vinícius Caricatte, fotos do underground aos Rolling Stones


FOTO: LUÍS KLEIN
Hoje apresentamos o fotógrafo Vinícius Caricatte, de 27 anos que desde de 2008 vem fazendo cliques importantes. O mineiro tem em seu currículo shows dos Rolling Stones e Guns n Roses. E hoje fala ao Metal Etílico em entrevista exclusiva, contando segredos e detalhes de seu trabalho. "Meu principal sonho é incentivar e ajudar as bandas de rock a encontrarem seu público através de meios de comunicação direta e indireta através de ações de marketing produzidas por diversos meios. Desde os 12 anos, quando tive meu primeiro contato com o Rock n' Roll, virei adepto desse estilo musical", conta Vinícius.

Como começou sua trajetória de fotografo? Em que momento você começou a fotografar shows musicais?

A minha vida de fotógrafo começou aos 17 anos. Eu e um amigo queríamos começar a sair pra balada. Decidimos criar um site (ToGarrado) e criar uma equipe que fazia cobertura fotográfica de eventos, para não pagar entrada e em alguns casos, até ganhar isenção de valores de nosso consumo. Já no começo do site consegui algumas cortesias para fotografar shows de bandas que tocavam nessas baladas. Por estar nesse nicho de shows, comecei a pedir o credenciamento de imprensa para alguns shows maiores e com cada aprovação que acontecia, um show novo entrava no portfólio.

Qual foi o show mais complicado para você fotografar?


Os dois shows do Guns N' Roses em BH foram complicados. E o dos Rolling Stones em 2016 também. Em 2010, a produtora do show do Guns N' Roses (Nó de Rosa) informou que os fãs não poderiam entrar com câmera nos shows. E quem levasse as câmeras deveria entregar as pilhas ou baterias aos seguranças. Eu levei a minha câmera, na época uma compacta digital, com pilhas descarregadas. Chegando lá na porta entreguei as pilhas quando estava no meio do povo, tirei as pilhas carregadas de dentro do tênis. No primeiro clique o flash disparou acidentalmente e um roadie da banda apontou pra mim e em seguida pra saída, sinalizando pra eu sair do evento. Eu me misturei no meio da galera e, clandestinamente, fotografei o show e consegui tirar fotos com alguns integrantes da banda na época (D.J. Ashba, Bumblefoot e o convidado Sebastian Bach, ex-Skid Row).


Já em 2014, eu estava credenciado para fotografar o festival Planeta Brasil e o Guns N' Roses era o headliner, fechando o evento. Eu tinha autorização para fotografar todos os shows, exceto o do Guns. No momento do show tive que sair da área chamada de "Pit", que é entre a grade do público e o palco, e fiquei na grade, mas bem de lado. Nesse dia em especial eu tava num momento muito tenso com minha namorada (que hoje não é mais) e minha cabeça tava muito em volta de tudo que tinha acontecido. Não lembro NADA do show, mas tenho algumas fotos para recordar do show.

Em 2016 foi a vez de registrar os Rolling Stones. A banda com mais de 50 anos de história com enorme influência sobre muitas outras bandas que conhecemos. Nesse evento eu não fui credenciado e assim como em 2010 precisei fotografar do público. Nesse show podíamos levar as câmeras fotográficas compactas, mas as profissionais - como a minha - não. Eu não ia no show, mas de última hora uma amiga que tinha comprado o ingresso pro namorado dela me disse que o namorado terminou com ela e me chamou pra ir. Eu disse que tava sem grana. Ela disse que era um presente. Já tinha o ingresso, mas não tinha grana para pagar o transporte. Um amigo meu é responsável pela organização de uma das principais empresas de transportes para shows de BH e conversei com ele e negociei uma permuta. Eu fazia uns serviços de gráfica pra ele e então ele não me cobraria a viagem.

Sendo assim, eu fui ao show dos Rolling Stones - completamente de graça. Chegando na porta do Maracanã eu tinha a missão de entrar com a câmera profissional e logo na revista o segurança disse "Com essa câmera não pode entrar" e perguntou para a segurança do lado para confirmar. Eu intervi e falei que as que não podiam eram "Aquelas profissionais, iguais as que a galera da Globo tá usando, olha lá o tamanho..." e apontei para um fotógrafo que tinha alguns acessórios acoplados na sua câmera que a deixava maior que a minha. Consegui entrar. Mas para dificultar um pouco, eu estava no setor mais longe do palco, a arquibancada que era do outro lado do estádio. Usei a minha lente com mais zoom e consegui algumas fotos legais. Apesar de tudo ter dado certo, eu tenho conhecido algumas pessoas legais e ainda ter ganhado algumas cervejas da minha amiga que me deu o ingresso, esse ainda foi um show bem difícil de ser fotografado pelas circunstâncias de localização, viagem, entrar com a câmera e distância do palco. A chuva não me atrapalhou à fotografar, o que aconteceria se eu tivesse sido credenciado para o evento.

Qual sua foto predileta de todas as que você fez? Por que?


É muito complicado escolher uma só. (1)  A foto que me fez querer fotografar shows é uma foto que tem muita importância pra mim. Não é uma foto com muita técnica aplicada, nenhum efeito master, nem nada. É uma foto simples, mas que é importante.




(2) Também uma foto que tirei no evento de aniversário da Land Spirit do Rogério Flausino e Wilson Sideral pulando no palco. Essa eu achei bem legal e é uma das minhas favoritas. Essa foto foi publicada pelo Wilson Sideral e pelo Rogério Flausino em suas redes sociais.



(3) Uma também do Mick Jagger, dos Rolling Stones, de longe (bem longe), no início da música "Sympathy For The Devil", com o telão todo com desenhos vermelhos e um canhão de luz em Jagger.



(4) Uma foto que também gosto muito é a do Claudão Pilha, o proprietário d'A Obra, uma casa de show de BH que é muito importante para as bandas independentes no cenário de rock e que existe há 20 anos. Nessa foto, também sem muita técnica aplicada, registrei o Claudão anunciando o bis da banda Autoramas, que era uma banda que eu tava descobrindo na época do show e estava estudando sobre bandas independentes brasileiras. Mais um exemplo de preferência emocional.


Pra completar o Top 5, uma foto do show do 3 Doors Down em que alguém do público levantou a mão com o sinal característico do rock, alguns chamam de chifre, e fiz uma foto da silhueta da mão com a luz de fundo do palco bem bacana. No dia seguinte do show publiquei as fotos no meu blog pessoal e no mesmo dia recebi um e-mail da produção da banda pedindo para utilizar as fotos. Também foi bem marcante por conta do tamanho da banda e por ter recebido um e-mail em inglês... Mal mal sei o português... E também por terem sido as únicas fotos que publicaram da turnê que fizeram no Brasil naquele ano. Tem muitas outras fotos que poderia citar, mas, vish, seriam muitas fotos... Supla, Simple Plan, Flo Rida, Foo Fighters, Red Hot Chili Peppers... Nó, é muita "foto predileta".


Quem são seus referencias na hora de fotografar? O que admira neles que tenta levar para o seu trabalho?

É muito importante a gente ver algumas fotos pra poder se inspirar né? Além de procurar fotos de bandas no Google que traz autores diversos, com frequência dou uma olhada no trabalho de algumas pessoas que gosto muito pra poder ver o que estão fazendo e pegar uma referência de ideias. Algumas pessoas pensam "você copia o trabalho do outro fotógrafo", mas na verdade eu acredito que num show não dá pra copiar nada. Você até pode ver a foto de um outro fotógrafo e tentar pegar cenas parecidas, mas se você não fotografar aquilo que você sente a fotografia de show não tem graça. Em BH temos alguns fotógrafos que eu gosto muito de ver as fotos: Iana Domingos, Luciana Chein, Rafael Ram, Flavio Souza Cruz... Esses são alguns dos que eu costumo ver mais, mas sempre que vejo fotos de show eu dou uma olhada com calma, independente de quem tenha fotografado.

Que artista que você não fotografou, vivo ou morto, que gostaria de fotografar? Por que?

Kurt Cobain e Renato Russo são artistas que eu gostaria de fotografar, mas pela época em que morreram, não foi possível. Eu poderia ter fotografado o Charlie Brown Jr, mas nunca consegui registrar um show deles com equipamento profissional. Nas vezes que estive nos shows, eu estava no público. E o último show deles em BH, em Novembro de 2012, se não me engano, eu não pedi credenciamento. Como diria, "Então já era..."

Qual o segredo para que suas fotos fiquem boas e tenham a sua assinatura?

Às vezes as pessoas me perguntam como consigo pegar alguns momentos específicos. Sempre que vou fotografar um show eu dou uma olhada por fotos da banda em apresentações ao vivo no Google e também assisto o show das bandas no YouTube pra poder ver como as bandas se comportam no palco. Os momentos em que costumam pular, brincar com o público e até mesmo alguma interação entre eles mesmos. No show do Max e Igor (irmãos Cavalera), logo na primeira música o guitarrista da banda dá um pulo girando e normalmente esse tipo de atitude vira um costume e consegui registrar a foto.

Tem mais alguma coisa que queira dizer?

Um pergunta que escuto muito: Não! Eu não vou entrar no camarim e nem falar com os artistas. Raramente isso acontece e quando acontece é tão surpreendente pra mim quanto seria pra os fãs que estão na grade.

Vinícius Caricatte é chefe do site Rock Fã Clube onde você pode conhecer mais do trabalho do fotógrafo.  

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Um comentário:

  1. Ae galera, massa demais isso ae! Obrigado pela oportunidade de falar um pouco mais do meu trabalho e do mundo do rock na minha vida! Valeeeeeeu!!!!

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